Como escolher sua Barraca

Olá!

Um dos assuntos mais controversos é a escolha da barraca, principalmente para quem está começando agora. Como era de se esperar, quem tem uma barraca da marca X e é feliz com ela vai sempre indicar esta marca/modelo, a menos que tenha tido problemas com ela. Entre os campistas, a quase unanimidade são as barracas Quechua, marca da loja de artigos esportivos Decathlon. Os modelos preferidos são os para seis pessoas, com dois quartos. São barracas realmente espaçosas, contam com uma "sala" na parte da frente que pode ser usado inclusive como cozinha. Porém, alguns campistas estão tendo problemas com a assistência pós-venda oferecida pela loja: por serem importadas diretamente, os produtos não contam com assistência técnica no Brasil; por isso, a loja oferece garantia de dois anos e promete trocar o produto sem muitas perguntas caso apresente defeito. Porém, ultimamente - e infelizmente - isso não vem acontecendo em todos os casos e o consumidor acaba ficando na mão, sem conseguir consertar o produto.

Mas o mercado está cheio de opções. E antes de ficar louco dentre tantas opções, sugiro seguir o roteiro abaixo, que vai determinar qual o tipo de barraca que você precisa. E o que deve ser observado.


1) Quantas pessoas irão acampar com você?

Esta é a principal questão. As barracas são classificadas principalmente pelo número de pessoas que cabem dentro dela. Há modelos para uma pessoa, há modelos para até dez pessoas. A questão é que este cálculo é feito considerando que todas as pessoas vão dormir em sacos de dormir (e ocuparão um espaço com cerca de 50 cm de largura por 1,80 m de comprimento, no máximo). Se você não abre mão de um conforto básico (e pretende, por exemplo, levar colchões infláveis), esta medida se torna apenas uma referência. Assim: uma barraca para três pessoas atende duas com certo conforto; uma barraca para quatro pessoas atende três. Se você quiser espaço para colocar as mochilas e tralhas, pense na metade da medida: uma barraca para duas pessoas atende uma com conforto; uma para quatro atende duas; uma para seis pessoas atende três adultos ou um casal com filho.
Determinado o tamanho da barraca, já temos um bom começo.

2) Que tipo de barraca é ideal para mim?

Existem vários (muitos mesmo) modelos, mas podemos classifica-los, a grosso modo, como:

2.1) Iglu simples
 
O tipo mais simples de barraca é o iglu simples. Trata-se de uma barraca pequena, leve, com um só ambiente (o quarto) e sem nenhuma área coberta extra. É ideal para ser carregada "nas costas" e para ser montada em locais difíceis, pois exigem pouco espaço. Porém, tem o inconveniente justamente de não oferecer nenhuma área coberta externa, o que significa que tudo terá que ser guardado dentro da barraca em caso de chuva. Imagine dormir ao lado de uma bota enlameada... Além disso, por não possuírem sobreteto completo (leia adiante), suportam menos chuva. Mas isso pode não ser um problema se você vai acampar num local onde não costuma chover, ou vai levar também uma lona para providenciar um "telhado" para a barraca.
Um modelo de iglu simples: a Iglu 3, da Mor.

2.2) Iglu com sobreteto
 
A diferença aqui é justamente a existência de sobreteto. O sobreteto - que alguns chamam de capa - é um tecido impermeável disposto sobre o iglu. Neste caso, é imprescindível que ele seja bem montado: deve ficar bem esticado e não pode encostar no iglu abaixo dele. Isto garante a ventilação e a impermeabilidade. Estes modelos, entretanto, continuam não tendo nenhum espaço extra, fora do quarto, coberto.

Um iglu com sobreteto: o modelo Fox Fit da Nautika

2.3) Iglu com avancê (ou avanço) 
 
Aqui começamos a expandir os espaços. O avancê é extremamente útil porque cria uma área coberta fora do quarto, onde você pode guardar os sapatos, por exemplo. Há muitos modelos, e basicamente eles se dividem em avancê aberto ou fechado:

Um iglu com avancê aberto. A área externa é ideal para guardar tralhas.
Modelo Falcon, da Nautika


Neste tipo, de avancê fechado, a área à frente do iglu pode ser usada
até como cozinha, em caso de necessidade. Modelo Zeus, da Guepardo


Um outro modelo. Neste, há uma abertura que forma um
toldo à frente do avacê. Modelo Indy, da Nautika



























Como você deve estar percebendo, dentre as barracas com avancê fechado há inúmeros modelos diferentes. Aí a questão é o gosto pessoal e também a praticidade no uso.

2.4) Barraca estrutural
 
Uma barraca estrutural é o modelo de barraca que, como o nome diz, possui uma estrutura interna, normalmente montada com tubos de aço. Se a estrutura tiver também varetas, aí são chamadas de semi-estrutural. Justamente por causa dessa estrutura, o formato é mais amplo, "quadradão". São barracas para famílias inteiras. Os inconvenientes são seu peso, tamanho quando desmontadas, tempo necessário para montagem (maior do que no caso das iglus que falamos acima). São para campings estruturados - não é uma barraca para ser carregada nas costas e também não são interessantes para acampadas rápidas, como as de fim-de-semana (por causa do tempo que levam para serem montadas e desmontadas). Por serem mais específicas, a diversidade de modelos é menor em relação aos iglus:

A Titan, da Guepardo. Nela cabem 12 pessoas. É semi-estrutural

Uma barraca estrutural. Normalmente nestes modelos a cobertura
é de lona ou PVC ao invés de poliéster. Pesam por volta de 30 Kg

























Agora que conhecemos alguns tipos de barracas e já sabemos qual tamanho vamos precisar, que tal dar uma olhada na questão da impermeabilização?

3) Impermeabilização
 
A barraca será sua casa de campo. Portanto, deve oferecer segurança quando o tempo virar: suportar ventos fortes, chuva, e não quebrar ou molhar dentro.

Quanto ao clima, as barracas são divididas em "estações": a grande maioria das barracas que temos à venda no Brasil são as barracas de "três estações", ou seja, atendem à maioria das necessidades climáticas do nosso país (verão, outono, primavera). Se você pretende acampar em montanhas sujeitas a nevascas etc, estas barracas não vão servir pra você. Neste caso, será necessário investir numa barraca "quatro estações" (que suporta também o inverno) ou, melhor ainda, numa bem específica.
 
Já que as barracas que encontramos facilmente por aqui são, na sua maioria, de três estações, vamos a alguns aspectos técnicos sobre a impermeabilização do tecido.
 
O padrão é o fabricante anunciar o grau de impermeabilização através do nome técnico "Coluna D'água": a minha barraca por exemplo, uma Guepardo Zeus 6, tem coluna d'água de 1.500 mm. Mas o que é isso?
 
Trata-se de um ensaio realizado no tecido da barraca, especialmente o do sobreteto. Nele é colocado um tubo, normalmente de vidro, cujo "fundo" é feito pelo próprio tecido a ser testado. Enche-se o tubo de água até que comece a gotejar através do tecido. A altura da coluna d'água então é medida e, assim, obtém-se quantos milímetros a coluna d'água alcançou antes de o tecido deixar passar água.
Um teste de coluna d'água. Note que, neste caso, a coluna d'água
atingiu 2.000 mm quando o tecido começou a deixar passar água
Para o nosso clima, considere o mínimo de 1.500 mm de coluna d'água. Se você vai acampar num local seco, pode apostar numa barraca cuja impermeabilização seja de 600 mm (a maioria dos iglus simples que vimos lá no começo). Se vai acampar em regiões onde chove muito (e por longos períodos), o melhor é pensar em 2.000 mm pra cima. 
 
 
Mas o que é pior: uma chuva forte ou uma chuva leve contínua?
 
Se você achou que a chuva forte - e rápida, típica tempestade de verão - é a pior para a sua barraca, está enganado. Com a continuidade da chuva, a tendência é que a água cada vez mais penetre no tecido - e aí é que mora o perigo. Se sua barraca não está preparada para suportar essas condições, o melhor é prevenir: uma lona por cima da barraca, formando um telhado, resolve o problema e ainda cria um espaço coberto à frente desta, melhorando muito o conforto. Mas tenha em mente que a lona não deve encostar na barraca, senão você vai ter problemas de ventilação, que pode gerar condensação dentro da barraca. Aproveite as árvores do entorno ou alguns bambus e faça algo assim:
 
Um bom toldo protege qualquer barraca e ainda cria um espaço
seco à frente dela.
Na foto acima, mesmo uma barraca com pequena resistência à chuva se tornou segura com o uso da lona. Este recurso é ainda mais relevante quando se acampa com iglus simples como este aí da foto, onde não há espaço para mais nada além dos sacos de dormir.
 
Tenha apenas o cuidado de fixar a lona usando materiais elásticos nos ilhoses, e nunca os amarrando diretamente com corda e nem com espeques: com o vento, se a lona não se movimentar, acabará danificando os ilhoses e poderá até mesmo rasgar. A dica que dou é recortar uma câmara de ar usada no sentido transversal, criando assim tiras circulares de borracha. Passe as tiras pelos ilhoses e prenda a corda ou o espeque nessa tira. Se houver vento forte, a elasticidade da borracha permitirá que a lona se movimente sem trancos, preservando-a.
 
Bem, agora já sabemos qual modelo de barraca é ideal para nossas acampadas, qual o tamanho, a questão da impermeabilização... Enfim, você já tem as informações básicas para fazer uma boa escolha. Só observe essas dicas:
 
4) Cuidados na montagem

O ponto crucial de qualquer barraca é a montagem. Acampando por aí, noto frequentemente que os campistas "esquecem" (por preguiça, ou por achar que não seja necessário) de fixá-la corretamente. As barracas tipo iglu são autoportantes, ou seja, ficam de pé mesmo sem estarem presas no chão, criando a ilusão de que estão "montadas".
 
Você sempre tem que ter em mente que o clima, principalmente no verão, pode mudar de um sol escaldante para uma chuva daquelas em questão de minutos. E essas chuvas normalmente são acompanhadas de ventos muito fortes. Ou seja: se sua barraca não estiver bem presa ao chão, ela poderá sair rolando pelo camping ou sofrer danos consideráveis.
 
Toda barraca é fornecida com espeques e cordeletes de fixação. Os modelos Iglu acompanham 12 espeques no mínimo: quatro fixam o iglu no chão, outros quatro fixam o sobreteto no chão, e os demais se ligam através de cordeletes aos pontos de fixação do sobreteto, normalmente um em cada canto da barraca, à meia altura, ou dependendo do modelo no meio de cada lateral. Estes cordeletes são de suma importância, pois mantém o sobreteto bem esticado e distante do iglu, melhorando a ventilação e evitando que, em caso de chuva, a água passe. E, se ventar, a força se distribui melhor, forçando menos as varetas da barraca.
 
Como já dito, um dos pontos cruciais para garantir uma barraca seca é ter o cuidado de não deixar o sobreteto encostar na barraca: quanto maior o espaço entre este e a barraca, melhor será a ventilação e menor o risco de a água se infiltrar.
 
Outro pesadelo de qualquer campista é a quebra das varetas. Normalmente essas quebras ocorrem no momento da montagem da barraca. Para evitá-las, ao invés de montar toda a vareta antes de passá-la pela bainha da barraca, vá montando aos poucos, conforme vai inserindo no iglu. Assim, você evita de movimentar uma seção muito extensa da vareta com as mãos, o que vai criar uma tensão muito grande numa área muito pequena da vareta.
 
Outro motivo que pode levar à quebra das varetas é o vento, mas neste caso só se a barraca foi mal montada ou não foi fixada adequadamente no chão. Como dito lá em cima, devemos usar todos os espeques e cordeletes, deixando tudo o mais esticado possível. Assim, as forças se distribuem por toda a barraca, e não só nas varetas.

5) Coloco ou não lona embaixo da barraca?

Você vai encontrar dois tipos de campistas: os que colocam lona embaixo da barraca e os que não colocam (como eu). Os que colocam alegam que a lona protege o piso da barraca contra furos. O problema é que, se o motivo é apenas evitar furos, eu prefiro dar uma boa olhada no chão antes de montar a barraca, retirando dele qualquer coisa ameaçadora: pedras, galhos etc. Até porque é complicado descobrir, na hora de dormir, que há uma pedra enorme justamente sob seu quadril.

O principal motivo por eu ser contra o uso de lona embaixo é a questão da drenagem da chuva: mesmo que chova, o terreno abaixo de sua barraca vai sempre estar mais seco que o terreno ao redor, o que vai facilitar a penetração da água. Se você colocar um plástico sobre ele, a água pode ser obrigada a passar entre esse plástico e o piso da barraca, o que com certeza formará poças - e se isto acontecer, você poderá acabar com uma mina d'água dentro da barraca. Além disso, muita gente deixa as bordas da lona para fora da barraca, o que piora ainda mais a situação: a chuva que cai sobre a barraca irá escorrer pelas laterais, cair na lona e escorrer para debaixo da barraca...
Mesmo que você tenha escolhido um péssimo local para montar sua barraca, um terreno inclinado que se transforma numa cachoeira, ainda assim você estará mais seguro sem a lona do que com ela. Acredite.
 
Se a intenção é proteger o piso da barraca - há locais onde não tem como você tirar as pedrinhas do chão - a solução é outra - e esta sim eu acho ideal: o uso de telas, também chamadas de "piso ecológico". Protegem e são permeáveis. Podem ser encontradas aqui ou em lojas especializadas em artigos de uso industrial, que inclusive fazem o piso sob encomenda.

6) Dicas práticas
  • Observando a topografia do local escolhido para a montagem da barraca, dá pra ter ideia se o local irá empoçar água em caso de chuva ou se por ali passará uma enxurrada: se houver valas típicas de escoamento de água ou se o terreno for uma baixada, com aspecto de "bacia", provavelmente o local é inadequado. Caso você seja obrigado a montar sua barraca em terreno inclinado, além de procurar indícios de enxurrada, tenha cuidado para que a porta da barraca fique voltada para baixo do declive. E durma com a cabeça na parte mais alta.
 
  • Evite montar barraca debaixo de árvores: um galho pode cair e causar um acidente, um pássaro pode sujar sua barraca - e as fezes vão com certeza prejudicar o tecido. Caso não haja outra opção, verifique se a árvore não é frutífera (por causa dos animais e da queda das frutas), se seu aspecto é saudável e se não há galhos pendentes. Se possível, estenda uma lona sobre a barraca.
 
  • Evite cumes de montanha ou locais sujeitos a ventos fortes. Caso haja uma tempestade, poderá haver danos à sua barraca. Prefira locais protegidos do vento, e monte a barraca de preferência com a porta virada para o lado oposto ao do vento.
 
  • A montagem da barraca fica mais fácil se, antes de instalar as varetas, você fixar a barraca no chão com os espeques.

  • É sempre recomendável ter uma lona à mão. A lona pode ser usada para fazer um "telhado" sobre a barraca (como visto acima) ou, caso este não seja necessário, a lona pode formar um toldo e criar uma área coberta à frente da porta da barraca, que pode virar uma cozinha, uma "sala" etc. Mas atenção ao tamanho da lona: ela deve ser no mínimo 2 m mais larga que a barraca e, no comprimento, no mínimo 3 m. Um toldo com este tamanho comporta a barraca e ainda sobra uma área coberta.
Enfim... Eu sei que a postagem ficou longa, mas o assunto não está esgotado. Tenha em mente que a melhor maneira de aprender é aprender fazendo, ou seja, vá acampar sem medo. Você tem o direito de errar, mas irá aprender com estes erros - e acredite, os erros costumam virar histórias que são lembradas pela vida inteira...

Espero que tenha gostado!
Obrigado pela visita!



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Objetivando a salubridade das páginas deste blog, todos os comentários serão moderados antes de serem incluídos.